
Episódio 108 – Sobre o Grandioso e Memorável Feito em que Dom Quixote Enfrentou Novamente o Gigante do Moinho de Vento com Bravura
Capítulo 3 | Smash Legends Novel
~Resumo da história até agora~
Dom Quixote, o lendário cavaleiro que realizou incontáveis façanhas nas histórias!
Mas sua história teve um fim, e como acontece com todas as histórias, Dom Quixote também veio parar
no Mundo Biblioteca — o lugar onde personagens descansam após o fim de suas tramas e reencontram
forças para seguir adiante. Lá, Dom Quixote pôde, finalmente, abandonar seu dever como cavaleiro e
voltar a ser apenas o velho camponês Alonso.
Mas o destino ainda não queria que ele fosse esquecido!
Ao salvar Rocinante, um potro jovem, ferido e perseguido por lobos e pela maligna organização Umbra,
Alonso ergueu novamente seu escudo e renasceu como o nobre cavaleiro andante Dom Quixote!
Determinado a derrotar os vilões e restaurar a paz no Mundo Biblioteca, partiu em jornada para
participar do Smash Legends!
“Veja, Rocinante! Finalmente estamos vendo uma vila!”
Ao chegar ao topo de uma colina, Dom Quixote teve uma visão clara da paisagem à sua frente. No
centro de uma pequena ilha narrativa havia uma vila, cercada de um lado por campos de trigo e um
terreno baldio, e do outro por uma pequena floresta.
Alegre por ver novamente uma vila após tantos dias, Dom Quixote correu em direção a ela com
Rocinante sobre o ombro. Vagando por várias ilhas narrativas nos últimos dias, sua comida estava
acabando e a fome já batia.
Para quem não está familiarizado com o Mundo Biblioteca, aqui vai uma explicação: sempre que uma
história chega ao fim, partes do cenário dela aparecem no céu em forma de ilhas. Algumas são
grandes, com castelos ou cidades inteiras, outras são pequenas e esquecidas. E como as histórias se
passam em tempos distintos, há ilhas com reis e castelos, vilas de animais falantes, e até fábricas
futuristas com robôs.
Os moradores do Mundo Biblioteca viajam entre essas ilhas usando navios voadores ou criaturas
aladas. Mas, como já sabemos, Dom Quixote não suporta esse tipo de transporte. Ele prefere andar
pelos caminhos que ninguém usa — caminhando, pulando e, às vezes, até voando por conta própria — o
que o deixou bastante cansado.
“Hm? Algo estranho nesta vila, Rocinante.”
Dom Quixote, que pretendia comer bem e dormir tranquilo, percebeu algo estranho ao se aproximar da
vila. As chaminés ainda soltavam fumaça branca, mas os caminhos estavam mal cuidados, muros
derrubados não haviam sido consertados, as paredes tinham rachaduras e os telhados estavam
quebrados.
Alguém menos atento pensaria que era apenas pobreza ou descuido. Mas o olhar treinado do lendário
cavaleiro reconheceu que eram marcas de um combate recente.
— Sim, sim, eu entendo, Rocinante. É natural que você esteja assustado, pois algo incomum está
acontecendo aqui. Mas não tema, estou com você. Vamos conversar com os moradores. Talvez estejam
precisando da ajuda de um cavaleiro errante!
Acariciando o potro assustado, Dom Quixote entrou na vila. As pessoas o olhavam com estranheza —
afinal, quantas vezes se vê um cavaleiro de armadura com um potro no ombro andando por aí?
— E-ei… cavaleiro… quem é o senhor?
Um idoso surgiu da maior casa do vilarejo e perguntou. Dom Quixote logo entendeu que ele era o chefe
da vila.
— Eu sou Dom Quixote de La Mancha! Cavaleiro errante, viajando por justiça e cavalheirismo!
Estou cansado de longa jornada e gostaria de repousar aqui por uma noite. Posso?
Ao ouvir seu nome, o ancião e os demais se espantaram. Afinal, até no Mundo Biblioteca a história de
Dom Quixote é famosa.
O chefe se curvou profundamente e disse:
— Oh, nobre cavaleiro! Sua reputação nos é bem conhecida. Nossa vila é humilde, habitada por
coadjuvantes esquecidos. Talvez não seja apropriada para seu descanso, mas é uma honra
recebê-lo. Há uma estalagem logo adiante. Por favor, sinta-se em casa.
Dom Quixote seguiu pelas ruas sob o olhar atento dos moradores. Ele percebeu que havia algo sendo
escondido ali, mas como cavaleiro, não podia acusar sem provas. Manteve a postura reta e seguiu até
a estalagem.
Dentro da estalagem havia apenas um hóspede, visivelmente diferente dos demais.
Parecia deslocado, com roupas distintas e um ar inquieto. Surpreso ao ver um cavaleiro entrando,
quase caiu da cadeira.
— Acalme-se, jovem! Sou apenas um cavaleiro em busca de justiça e cavalheirismo. Nada há para
temer!
Dom Quixote sentou-se ao lado do jovem, que estava visivelmente nervoso, mas não fugiu.
— Pela sua aparência, parece não ser deste vilarejo. Também é um viajante como eu?
O jovem assentiu e começou a contar sua história:
— Acordei de repente neste lugar... Percebi que era um mundo de histórias, mas não conheço
ninguém. Nem sei de que história vim. Estou completamente perdido.
— Oh, não! — exclamou Dom Quixote. — Mais uma vítima da maldita “Anomalia do Mundo
Biblioteca”!
Como os leitores sabem, essa anomalia tem causado inúmeros problemas: personagens aparecendo antes
de suas histórias terminarem, ilhas surgindo sozinhas, gente chegando sem saber que são
personagens...
E o pior: quem chega por meio da anomalia não consegue mais voltar para sua história.
O jovem era exatamente esse caso: caiu em uma ilha rural, sem memória de sua história ou identidade.
Os moradores lhe explicaram tudo, mas ele ainda estava perdido, passando os dias na estalagem sem
saber o que fazer.
— Mas não tema, jovem! Agora que estou aqui, o mal será derrotado! Os vilões da Umbra logo
implorarão por perdão!
Dom Quixote bateu no peito com orgulho. O jovem, exausto, apenas suspirou. Nem Rocinante parecia
animado. Dom Quixote esperava ser elogiado, mas diante da frieza do rapaz, começou a se
incomodar.
— Compreendo que não seja fácil acreditar apenas com palavras… mas não confia em mim?
— Me desculpe, cavaleiro. Mas... venho de uma era sem cavaleiros. E ouvi dizer que o senhor
confundiu moinhos com gigantes, causou confusões com camponesas que achava ser damas…
Honestamente, não vejo como alguém assim poderia nos proteger.
— Ora, seu insolente!
Furioso, Dom Quixote se levantou e gritou. Rocinante relinchou assustado. A situação poderia sair do
controle, mas o estalajadeiro apareceu ao ouvir o tumulto.
— Ah, graças aos céus! Estávamos procurando alguém para nos ajudar… e um cavaleiro aparece justo
agora!
Esquecendo a raiva, Dom Quixote sorriu ao ouvir aquelas palavras.
— Sabia! Há algo que esse cavaleiro deve resolver, não é?
O estalajadeiro tremeu e começou a explicar:
— Ultimamente, lobos começaram a aparecer... Mas não são lobos comuns — eles andam sobre duas
patas e falam! Exigem comida e dinheiro, e quando negamos, causam destruição. Até o moinho fora
da vila foi destruído! Estamos desesperados… e os caçadores da HUNNT não vêm até aqui…
No Mundo Biblioteca, há heróis e vilões de todas as histórias. Alguns vilões vivem pacificamente,
mas outros continuam com suas maldades. Para enfrentá-los, existe a HUNNT — um grupo formado por
personagens anônimos como "caçadores que passavam por ali". Mas como o mundo é enorme, nem sempre
conseguem proteger todos.
Quando Dom Quixote apareceu, os moradores viram nele uma esperança. Muitos que o seguiam em silêncio
entraram na estalagem, desesperados por ajuda:
— Eles levaram toda a nossa colheita!
— Não temos mais moinho para moer farinha!
— Por favor, cavaleiro, expulse aqueles lobos!
O lugar virou um pandemônio. Todos falavam ao mesmo tempo. Dom Quixote tentou escutar cada um, mas
sua cabeça quase explodiu.
— Chega! Já entendi! Acalmem-se!
Assustados com seu grito, os moradores se calaram. O chefe se adiantou:
— P-perdoe-nos, cavaleiro. Não queríamos irritá-lo…
— Não estou irritado! Só peço que se acalmem!
Dom Quixote pigarreou com imponência:
— Não se preocupem! Cheguei a esta vila por destino, para lutar em nome da justiça! Esses lobos
covardes cairão diante do meu escudo. Uma gloriosa batalha nos aguarda!
Os moradores e Rocinante aplaudiram. Mas o jovem apenas suspirou, achando tudo ridículo.
A porta da estalagem se abriu. Uma voz rude ecoou:
— Que festa é essa?
Eram os lobos — vestidos de preto, sorrindo com arrogância.
— Querem pagar o imposto? Então trabalhem! Parar para festa não ajuda ninguém!
O líder, de óculos escuros, olhou em volta até notar Dom Quixote.
— E aí, velhote? Veio lutar?
Os lobos riram — até que Dom Quixote, sem dizer nada, atacou com o escudo!
— O que é isso, maluco?!
Surpresos, os lobos foram jogados para fora da estalagem. Com escudo em punho, Dom Quixote
declarou:
— Lobos malignos! Vossa tirania acabou! Em nome da minha dama, eu, Dom Quixote, desafio-vos para
um duelo! Pela justiça, vencerei!
— Hah! Vai se arrepender, velhote!
O combate estava prestes a começar, mas então um dos lobos sussurrou:
— Espera! Olha o potro no ombro dele! É o Rocinante!
Todos os lobos olharam. Já tinham ouvido falar: outros lobos enfrentaram aquele homem e se deram mal
por causa daquele potro.
— Melhor recuar e chamar ajuda.
— Acha que vale pedir ajuda para “eles”?
— Não gosto da ideia, mas é melhor do que apanhar aqui.
Enquanto cochichavam, Dom Quixote se enfureceu.
— Covardes! Eu pedi um duelo! Enfrentem-me como verdadeiros inimigos!
— Foi mal, velhote! Lutamos depois!
— O quê?! Vocês fogem?! Tão temem o meu escudo assim?!
— Relaxa, voltaremos hoje à noite. Fiquem esperando. E você aí, ancião! — O lobo apontou para o
chefe da vila: — Por trazer esse velho pra cá, agora essa vila é nossa! Sumam antes da noite se
não quiserem se arrepender!
Dito isso, os lobos partiram.
Os moradores suspiraram aliviados, mas também com medo — eles voltariam à noite com reforços.
Dom Quixote, contudo, exclamou com confiança:
— Não temam, cidadãos! Venham eles como vierem, eu os enfrentarei! A justiça vencerá, pois eu
sou seu defensor!
Mas os moradores ainda temiam. Afinal, os lobos falaram em trazer a Umbra... e a Rainha Bruxa...
Enquanto alguns aldeões deixavam a estalagem e se reuniam na casa do chefe da vila para discutir,
apenas Dom Quixote e o jovem permaneceram ali.
O jovem, lembrando do atrito que tivera com Dom Quixote mais cedo, temia que o velho voltasse a se
irritar. Mas Quixote parecia completamente alheio à sua presença e conversava apenas com
Rocinante.
— Sim, sim, Rocinante, não se preocupe. Eu e meu escudo estamos com você. Aqueles lobos não
ousarão encostar um dedo em ti! Mas... isso tudo é preocupante. A Rainha Bruxa e a Umbra estão
soltas por aí... preciso derrotá-los logo para restaurar a justiça!
O jovem, vendo aquele velho falando com um potro no ombro, teve ainda mais dificuldade de levá-lo a
sério. Além disso, estava imerso em pensamentos sobre como sobreviver dali em diante.
Notando sua inquietação, Dom Quixote se aproximou, sem o menor sinal de ressentimento pelo que havia
acontecido antes.
— Jovem, não se preocupe. Mesmo que esses lobos tragam reforços, eles não conseguirão me
derrotar. Mas vejo que seus problemas vão além disso. Que tal desabafar com este velho
cavaleiro? Tenho experiência e sabedoria, mesmo que não pareça!
O jovem hesitou, mas acabou cedendo:
— Como já disse… não sou como as pessoas desta vila. No meu mundo, não há lobos falantes nem
cavaleiros como o senhor. Às vezes acho que ainda estou sonhando. Um dia simplesmente acordei
aqui. Descobri que sou um personagem de uma história… mas não sei qual. E agora, não sei o que
fazer da vida. Nem sei se posso continuar vivendo aqui…
— Hmmm… entendo sua confusão — respondeu Dom Quixote, assentindo. — Ouvi dizer que a capital do
Mundo Biblioteca, Synop City, é cheia de personagens de histórias diferentes. Talvez deva ir até
lá. Quem sabe não encontra alguém da sua terra?
— Já pensei nisso. Mas estamos numa vila remota. Não há barcos para lá, e o próximo transporte
virá só daqui a muito tempo. E, sinceramente, não tenho coragem para vagar por ilhas
desconhecidas como o senhor.
— É verdade. Nem todos têm a coragem de avançar contra moinhos achando que são gigantes...
O jovem não entendeu a provocação. Depois perguntou:
— E o senhor? Não tem medo? De lutar contra aqueles lobos... e agora, contra os reforços que
virão à noite?
Esperando que Dom Quixote se irritasse, ele ficou surpreso quando ouviu uma risada sincera.
— Hahaha! Claro que tenho medo. Como não teria? Sou só um velho com armadura e escudo. Mas ouça,
rapaz: coragem não é a ausência do medo — é seguir em frente apesar dele. Fugir só deixa mais
gente sofrer. Enfrentar o que vem pela frente em busca de um amanhã melhor — isso é a verdadeira
coragem.
— Faz sentido... mas acho que não tenho essa coragem.
— Hahaha! Ora, é porque você nunca se olhou no espelho. Você teve coragem para me confrontar
antes, não teve? E agora está aqui, falando comigo. Isso também é coragem, sabia?
O jovem ficou em silêncio, surpreso. Começou a reconsiderar tudo o que Quixote dissera. Ele se
lembrou de que, em sua versão da história, Dom Quixote recuperava a sanidade no fim. Será que aquele
velho também havia recuperado a razão?
Mas Quixote logo voltou ao seu tom grandioso:
— Mesmo que você não encontre coragem agora, não se preocupe! Eu enfrentarei a Umbra e a
Anomalia! Quando ouvirem meu nome, até mesmo a Rainha Bruxa tremerá!
O jovem voltou a duvidar. Ele até quis perguntar: “Se é tão destemido, por que anda só com um
escudo?” — e acabou perguntando mesmo:
— Por que não carrega uma lança?
— Ah! Rocinante não gosta da lança. Incomoda ele. Além disso, proteger é o dever maior de um
cavaleiro, e este escudo já basta para mim!
Disse isso rindo alto. O jovem suspirou fundo.
Nesse momento, ouviu-se um burburinho do lado de fora. Era o chefe da vila e os moradores
voltando.
— Cavaleiro… — disse um deles, hesitante.
— O que os traz aqui? Vieram ouvir minhas aventuras?
— Não, senhor… viemos avisar que vamos deixar a vila.
— O quê?! Estão fugindo por medo dos bandidos? Não confiam que eu vou expulsá-los?!
Dom Quixote gritou tão alto que a estalagem tremeu. O chefe tentou acalmá-lo:
— N-não é isso! Claro que confiamos… mas temos medo do que eles podem trazer. Talvez a Umbra… ou
a Rainha Bruxa...
Os moradores haviam decidido: não queriam expulsar Dom Quixote, mas também não tinham coragem de
lutar ao lado dele. Por isso, preferiam sair e deixar que o velho enfrentasse tudo sozinho. Se ele
vencesse, voltariam. Se não… procurariam outra ilha para viver.
Dom Quixote não entendeu. Ele continuou discursando sobre justiça, bravura e como derrotaria
qualquer vilão — até mesmo a Rainha Bruxa. Mas isso não convenceu ninguém.
O jovem também já estava certo: Dom Quixote era, de fato, o mesmo velho insano da história.
Então, um a um, os moradores deixaram a vila e subiram para a colina, de onde poderiam observar a
batalha à distância.
Dom Quixote, por sua vez, não se abalou. Falava sozinho com Rocinante:
— Isso mesmo, Rocinante! A batalha de um cavaleiro é um ritual sagrado. Não deve ser um
espetáculo para o povo. Se lutássemos na frente deles, seria vulgar! Melhor assim!
Com isso, o jovem também sacudiu a cabeça, decepcionado, e seguiu com os demais para o alto da
colina.
Na vila deserta, Dom Quixote esperava calmamente o inimigo. A noite caiu. O luar brilhou. Mas ele
não temia.
Olhando para o céu, fez um voto:
— Ó minha dama! Esta noite, sob a luz da lua e das estrelas, novamente enfrentarei a injustiça!
Que a senhora, onde estiver, olhe para este céu e me envie sua bênção! Que meu escudo brilhe e
traga juízo a esses malfeitores!
Enquanto ele falava, um som surdo começou a ecoar — tum… tum…
Os moradores na colina viram árvores balançarem ao longe. Um monstro se aproximava.
— Está vindo!
— É um dragão!
— Não! Um monstro de contos de fadas!
— Estamos perdidos!
E então, da floresta, surgiu a criatura: maior que qualquer árvore, com braços e pernas de pedra, um
telhado na cabeça como um chapéu e quatro hélices nas costas.
Era… um moinho de vento transformado em gigante.
— É o monstro do moinho! A Umbra o transformou nosso moinho em gigante!
Sim — era o mesmo moinho destruído dias antes, agora transformado em criatura pela magia sombria da
Irmandade das Bruxas da Lua Negra — um grupo de bruxas que serve à Rainha Bruxa, trocando
colaboração por liberdade para praticar seus feitiços sombrios.
Naquela noite, lobos e bruxas se uniram temporariamente para derrotar Dom Quixote e capturar
Rocinante.
O gigante de pedra avançava pela vila, fazendo o chão tremer a cada passo. Bruxas riam, lobos se
enchiam de orgulho, e Dom Quixote… sorriu com entusiasmo.
— Veja, Rocinante! Eles trouxeram o mesmo moinho que enfrentei no passado! Naquela vez, o mago
transformou um gigante em moinho e não pude vencê-lo… mas agora é diferente! Desta vez, eu o
derrotarei em nome da justiça!
Com escudo em punho, Dom Quixote correu na direção do gigante.
— Ele... ele está mesmo indo! — disseram os moradores atônitos, observando da colina.
— Ele não está com medo?
— Claro… ele já enfrentou um moinho antes...
Os moradores ficaram em silêncio. O jovem murmurou sem perceber. Alguém ouviu e perguntou:
— Você conhece bem a história dele, não conhece?
— Então ele é mesmo um grande herói, como diz?
— E ele venceu o moinho?
Antes que pudesse responder, Dom Quixote já estava diante do gigante. Rocinante, no ombro,
relinchava. O gigante ergueu um punho de pedra e o desceu com força contra o velho cavaleiro.
Mas naquele momento, um brilho surgiu no escudo de Dom Quixote. Uma luz também envolveu Rocinante.
Uma sombra veloz passou em torno do gigante e ele cambaleou.
— Afaste-se, monstro!
Com o grito, Dom Quixote impulsionou seu escudo contra o peito do gigante — e o derrubou.
THUUUM!
O chão tremeu, a poeira subiu, os moradores gritaram de alegria, os lobos e bruxas… de pavor.
— Viram isso?! — bradou Dom Quixote. — Que truques vocês usem, jamais vencerão o poder da
justiça e da proteção divina da minha dama!
Mas o gigante se ergueu novamente.
Dom Quixote se posicionou:
— Ainda não se rendeu? Então aceite: já perdeu. Reconheça a derrota e admita que minha dama é a
mais bela e nobre de todas!
O gigante não respondeu — apenas ergueu o braço outra vez. Um enorme punho de pedra desceu em
direção a Dom Quixote.
Os moradores assistiam com apreensão. O jovem também. Ele parecia tão pequeno diante daquele
ataque...
Dom Quixote, no entanto, não recuou nem um passo.
— Ó minha dama, proteja-me!
No instante do impacto, o escudo brilhou com força. O punho gigante colidiu com ele — e foi
repelido!
Com o contragolpe, o gigante perdeu o equilíbrio e… desmoronou. As hélices, as pedras, o telhado...
tudo virou entulho.
Os lobos correram até as bruxas, furiosos:
— O que foi isso?! Um velho derrotou o gigante?!
— Como iríamos saber?! Disseram que era só um velho maluco!
— Vocês e suas engenhocas inúteis! Fomos enganados!
— Inúteis?! Querem que eu os transforme em sapos?! Vão lá e derrotem ele vocês mesmos!
Enquanto discutiam, Dom Quixote ouviu a gritaria.
— Ah, então estão escondidos aí, seus malfeitores! Vossa magia falhou, e vosso gigante caiu.
Agora é a vez de vocês!
Erguendo o escudo, Dom Quixote partiu correndo na direção deles.
Lobos e bruxas congelaram. Perceberam que aquele velho era mais do que aparentava. Em pânico,
fugiram em todas as direções.
— Covardes! Só sabem correr?! — gritou Dom Quixote. — Pois saibam, Rocinante, vencemos mais uma
batalha!
Rocinante relinchou alto, como se confirmasse.
Com o nascer do sol ao fundo, os moradores desceram correndo da colina e rodearam Dom Quixote, em
êxtase.
Na entrada da vila, enquanto o sol surgia no horizonte, Dom Quixote se despedia.
— Vai partir mesmo, cavaleiro? Fique um pouco mais! Não tivemos nem como agradecer...
— Não é necessário — disse ele. — Um cavaleiro não age em busca de recompensas. Como cavaleiro
andante, devo seguir adiante, onde a justiça for necessária!
— Mas agora que os lobos sumiram, poderíamos finalmente cuidar bem do senhor…
— Agradeço, mas não é papel de um cavaleiro apegar-se ao conforto!
— Está bem, está bem. Não se zangue...
— Não estou zangado!
Os moradores riram. O jovem, então, se aproximou.
— E você, rapaz? O que fará agora?
— Fiquei pensando no que me disse... vou ficar mais um tempo nesta vila, me adaptar ao Mundo
Biblioteca. E depois, vou até Synop City. Quem sabe não encontro alguém da minha história por lá
— ou posso ajudar outros que, como eu, apareceram sem entender nada.
— Ótima decisão! Você pode não ser cavaleiro, mas tem espírito de um.
O jovem sorriu. E antes que Dom Quixote partisse, fez uma última pergunta:
— Cavaleiro… está indo embora agora por acaso porque teme que eles voltem com alguém ainda mais
forte, atrás do senhor ou de Rocinante?
Dom Quixote parou por um instante. Mas ao invés de responder, apenas virou-se de costas e continuou
caminhando, Rocinante no ombro.
E assim, sob o nascer do sol e os aplausos dos aldeões, Dom Quixote partiu em direção à estrada,
firme, determinado e — como sempre — pronto para a próxima aventura.
E assim encerramos mais um capítulo da jornada de Dom Quixote — preparando o terreno para quando ele enfim participar do “Smash Legends”.