
Até que a Entregadora Ponha os Sapatinhos de Cristal
Capítulo 2 | Smash Legends Novel
Toc, toc, o som dos sapatos ecoava.
Subindo a longa escadaria do palácio com um vestido elegante, Cindy lembrava: na última vez, só
pensava em descer correndo. E agora, cá estou de novo.
Naquela vez, achava que seria sua primeira e última visita ao palácio. Corria escada abaixo,
perseguida pelo tempo, e era meia-noite — nem teve chance de observar o local. Mas agora, Cindy
subia a longa escada e podia enfim admirar a imponente construção real.
Degraus de mármore branco puro, colunas grandiosas sustentando o edifício principal, e as janelas
decoradas que se alinhavam ao longo da parede — tudo refletia o esplendor do jardim ao redor. Fontes
jorrando água em direção ao céu, árvores dispostas em filas ordenadas, flores em plena floração. E,
claro, soldados.
Lançando olhares de soslaio, Cindy observava os soldados alinhados dos dois lados da escada. Eles
permaneciam imóveis, empunhando lanças, com expressões duras.
Esses soldados não estão aqui para proteger o castelo — estão aqui para me vigiar, para me
intimidar.
Olhando para o vestido que usava, Cindy suspirou. Era branco e esplêndido, combinando com o luxo do
palácio — totalmente diferente das roupas simples e confortáveis que costumava usar para tarefas
domésticas e bicos. Aquele traje era bonito aos olhos, mas desconfortável no corpo. Diferente do
vestido feito pela gentil feiticeira, que era bonito e confortável.
Nunca imaginei que vestiria algo assim de novo...
Enquanto pensava, Cindy chegou ao topo da escadaria. Diante do enorme portão, que parecia alcançar o
céu, estavam soldados e um senhor idoso trajado formalmente. Ela se lembrou de que ele era o
mordomo.
— Aqui estou, como combinamos. Agora me leve até minha mãe e minhas irmãs.
— Estávamos esperando, senhorita Cindy.
Ao sinal do mordomo, os portões se abriram lentamente. Os soldados se moveram com sincronia,
formando uma fileira ao redor dela — tanto para proteger quanto para prender. Cindy respirou fundo e
deu o primeiro passo. A cada passo que seus sapatos batiam no mármore, o som das armaduras
acompanhava o ritmo.
O interior do palácio era tão esplêndido quanto o exterior. Pinturas e retratos decoravam as
paredes, colunas ornamentadas se erguiam entre janelas enormes. As janelas eram tão limpas que
pareciam não ter vidro. Tudo ali contrastava com a humilde casa onde crescera com sua família.
— A partir de hoje, este será o seu lar, senhorita Cindy — disse o mordomo, enquanto caminhavam
pelos corredores.
Mas Cindy, mesmo sabendo que moraria naquele lugar luxuoso, sentia-se cada vez mais deprimida.
— Chegamos.
Perdida em pensamentos, nem percebeu o tempo passar. Quando dois criados abriram as portas,
revelou-se um imenso salão de baile. Ela se lembrava daquele lugar. Foi onde o baile aconteceu — o
único lugar do castelo que ficou gravado em sua memória.
Naquela noite, tudo fora divertido. Gente animada, comidas deliciosas, e um vestido obtido com a
ajuda da gentil feiticeira. A madrasta e as meias-irmãs ficaram felizes em vê-la. Embora tivessem
dito que ficariam em casa para que ela pudesse ir, Cindy fingiu ter um trabalho para não privá-las
da comida do baile.
Elas perguntaram como ela havia conseguido ir e Cindy contou sobre a feiticeira e o vestido mágico.
Todos comemoraram e aproveitaram a festa.
Até aquele homem aparecer.
— Finalmente chegou, minha adorável rainha!
A voz despertou Cindy das lembranças felizes. Ela lançou um olhar afiado na direção do homem. As
imagens festivas se desfizeram — os convidados se tornaram soldados, a música virou silêncio. Apenas
o príncipe permanecia igual.
— Que história é essa de "rainha"? Onde estão minha mãe e minhas irmãs?
Ela gritou, mesmo sabendo que era o príncipe. Ele apenas sorriu e fez um sinal com o queixo. Portas
se abriram, e soldados trouxeram sua madrasta e irmãs, amarradas com cordas.
— Cindy!
— Mãe! Irmãs!
Tentaram se aproximar, mas os soldados baixaram as lanças. Cindy cerrou os dentes de raiva.
— Eu vim, como você mandou! Agora solte elas!
— Ah, claro. Afinal, elas serão minha sogra e cunhadas.
Mesmo diante do olhar furioso de Cindy, o príncipe sorria.
— Mas primeiro, temos que realizar o casamento. Ou sua família será punida por trair o
príncipe.
— Covarde!
— Mas não foi para isso que você veio? Até vestiu o traje que lhe dei.
— Você me obrigou! Raptou minha família!
Sim, ela estava ali para se casar. Sim, usava o vestido por ordens dele. Mas nunca foi sua
escolha.
Na noite do baile, o príncipe se apaixonou à primeira vista. Mas Cindy, lembrando do aviso da
feiticeira sobre a meia-noite, fugiu às pressas. Quando a magia se desfez, tudo voltou ao normal —
exceto pelo sapatinho de cristal, que ficou em seu pé. Apenas um. Isso a deixou inquieta.
E no dia seguinte, a inquietação se tornou realidade. O príncipe, incapaz de esquecer Cindy,
procurou por toda parte. Como ninguém a reconheceu, ele decidiu usar o sapatinho para
encontrá-la.
Soldados o levaram por todas as casas, calçando o sapato em todas as mulheres. Cindy, com a ajuda da
família, tentou evitar. Mas acabou sendo descoberta. Quando recusou o casamento, o príncipe
sequestrou sua família e a ameaçou.
— Por que recusa meu pedido? Seria ruim ser rainha?
O príncipe falava com falsa inocência. Cindy não podia negar: ele era bonito. Se casasse com ele,
moraria naquele palácio. Teria conforto, segurança... Não precisaria mais trabalhar sem parar.
Mas então olhou para sua mãe e irmãs, amarradas, preocupadas com ela. A casa era velha, chovia
dentro e havia ratos, mas era um lar feliz, cheio de carinho.
Se casasse, nunca mais voltaria para aquela vida. Mas se não casasse, o que aconteceria com sua
família?
— Parece que terei que ajudar na sua decisão.
O
príncipe estalou os dedos. Os soldados ao lado de sua família moveram as lanças.
— Não faça isso! — gritou Cindy, estendendo a mão.
— Basta calçar esse sapatinho. E o casamento estará feito.
Em frente ao príncipe havia um suporte coberto por um pano. Quando o pano foi retirado, revelou-se o
sapatinho de cristal mágico — o mesmo que havia deixado para trás.
— Calce-o, e tudo será resolvido. Disse que me casaria com quem ele servisse, e você é a dona.
Vamos, desista logo.
O príncipe sorria, convencido de sua vitória. Cindy não queria se separar de sua família. Queria
continuar vivendo feliz, mesmo que com pouco. Mas se não se sacrificasse...
Com hesitação, tirou um dos sapatos e estendeu a mão para o sapatinho de cristal.
— Cindy!
O grito veio repentinamente. Sua mãe e irmãs, resistindo aos soldados, gritaram:
— Não se preocupe conosco, Cindy!
— Faça o que você quiser, Cindy!
A sinceridade nas palavras e no olhar mostrava que pensavam na felicidade dela mais do que na
própria segurança.
Aquelas palavras lhe deram força. Cindy olhou para o príncipe e sorriu. O príncipe, confuso, sorriu
também, achando que ela havia cedido.
Mas o que Cindy realmente queria era...
— Acertei ele com o sapatinho. Assim, ó.
Cindy falava naturalmente, gesticulando como se batesse com um martelo invisível, enquanto Alice, à
sua frente, derramava chá de tão surpresa.
— Ele me irritou. Queria me forçar usando minha família. Eu sou nova, nem penso em casar. E ele
me aparece com essa? Odeio esse tipo.
Com um sorriso despreocupado, Cindy explicou.
Após gravar um vídeo para sua família na sala de Alice, as duas decidiram tomar um chá.
Naturalmente, o assunto foi como Cindy acabara no Mundo Biblioteca — o mundo onde todas as histórias
se encontram.
Lá, personagens de vários contos vivem juntos. Alice e Cindy eram protagonistas de suas respectivas
histórias.
— Me senti bem depois de acertar ele, mas aí tudo ficou branco. Quando dei por mim, estava aqui.
Levei um susto.
Disse Cindy, tomando seu chá ruidosamente. Alice já havia desistido de corrigi-la quanto a
etiqueta.
Normalmente, personagens vêm para o Mundo Biblioteca quando suas histórias terminam. Mas às vezes,
como no caso de Cindy, surgem mudanças na história e o personagem é transportado de forma
abrupta.
— Então você veio sozinha…
Alice comentou com um olhar sério. Cindy sorriu, mas parecia mais triste do que o normal.
— É… acho que sim.
Nos últimos tempos, o Mundo Biblioteca vinha sofrendo uma anomalia. Histórias interrompidas,
personagens vindo sozinhos, sem poder retornar.
Cindy foi afetada por essa anomalia. Só ela veio — sem o príncipe, a madrasta ou as irmãs.
— Mas não estou totalmente sozinha!
O sorriso voltou ao rosto de Cindy.
— Encontrei a gentil feiticeira aqui também!
— Aquela que fez o vestido e os sapatos?
— Sim! Ela me ajudou de novo. Disse que minha família está bem, que não preciso me preocupar.
Não dá pra voltar ainda por causa da anomalia, mas estão seguros.
Alice disfarçou sua preocupação com um gole de chá. Cindy não percebeu.
— Ela até transformou o sapatinho de cristal em algo mais confortável! Dá pra correr super
rápido!
Cindy mostrou seus sapatos modernos. Ela era agora uma entregadora famosa em Synop City, a metrópole
do Mundo Biblioteca.
— Já está na hora… Obrigada, Alice! Me sinto melhor agora. Vou me esforçar até poder entregar
esse vídeo pra minha família!
Cindy olhou o relógio, agradeceu e se despediu. Alice acenou de volta.
— “Sapatinho de cristal… Madrasta e irmãs bondosas…”
Sozinha, Alice repetia essas palavras.
Voltando ao laboratório, ainda pensativa, deixou tudo de lado e sentou-se diante do computador.
— Sabia…
Murmurou ao ver o conteúdo na tela.
o Mundo Biblioteca mantém uma grande biblioteca para registrar todas as histórias — para que ninguém
esqueça de onde veio e para que se saiba de onde vêm os recém-chegados.
A história de Cindy também estava registrada lá. Era famosa e inspirava outras histórias.
Mas...
— Está diferente.
A versão registrada na biblioteca não batia com o que Cindy contou.
Casos como esse não eram incomuns. Mas havia algo estranho… especialmente quanto à sua família. E ao
"sapatinho de cristal".
Aquele que fez soar o sensor de magia anormal.
Há muitas incógnitas em torno de Cindy. E Alice — uma das maiores cientistas do Mundo Biblioteca e
uma garota movida pela curiosidade — sentia apenas uma coisa:
— Eu preciso estudar isso!
Com os olhos brilhando, ela murmurou para si mesma.